Ouso perguntar a cada um que segue estas linhas: o que você sabe sobre pornografia? Saímos de casa, vamos ao cinema, compramos jornal, assistimos TV... Há toda uma geração de mentes jovens por aí divagando sobre arte e cultura entre uma punheta e outra, cinema e seus gêneros entre uma punheta e outra, as várias facetas do homem entre uma punheta e outra, porém... Fica claro o desconhecimento sobre assuntos mais sérios e complexos como é a meteção pornográfica.
Talvez um dia olhemos para o finado século XXI e nos espantemos com a disparidade entre o consumo de pornografia e o conteúdo produzido sobre ela. Não se trata pornografia nos cinemas ou em formatos acessíveis. Existe uma censura mórbida tal qual muralha dos bons costumes que se interpõe entre a mais linda das artes e os tópicos discutidos pelos cidadãos comuns. Um ou outro canal exibe algo lá pelas duas ou três, mas isso é tudo.
É engraçado pensar que filmes violentos como Kill Bill sejam debatidos enquanto sexo continua sendo tabu.
Isso não é de hoje. Esse é um mundinho desprezível onde a violência e o sexo habitam lugares especiais. Ambos tem seu espaço, of course. Mas enquanto a violência é aceita na cultura popular como parte indissociável desta, a pornografia não é! Isso é abismal, me pergunto como podem as maiores disparidades serem as menos notadas... Porque duas ou mais pessoas sentindo prazer não é viável como forma estética? Porque sempre esse obscurantismo de locadora, esse apagar constante de históricos, esse criar frenético de pastas invisíveis?! O rosto de repúdio, meus irmãos, do balconista na locadora, a desprezar com toda sua alma fétida e a sussurrar baixinho com sua voz sibilante a gélida palavra "punheteiro" para o bravo homem que sai às ruas em busca de prazer.
Reparo que em nosso novíssimo século a situação parece ter ficado mais obscura do que um dia já foi. Não, não sou um pessimista. Somente relato os fatos. Veio o VHS, se foram os cinemas. Veio a internet, se foi o VHS. O consumo deste tipo de material aumenta, porém, as produtoras mais sérias e respeitadas tiveram um declínio nas vendas e consequentes cortes de orçamento, empobrecendo o gênero. É absurdo. Como se restaurantes de uma região falissem pelo aumento do consumo de fast food. Nunca se bateu tanta punheta, mas como esse ato passa desapercebido e indigno de reflexão é um mistério para mim. Na mente dos jovens masturbação não tem importância, muito menos do que na de nossos pais. Estes ainda arquivavam a memória visual que apreendiam na rua para usar no chuveiro, o que requer bem mais do que você pode imaginar.
Quando condeno, me refiro a atitude tomada pela maioria que repete "qualquer coisa serve". Andei visualizando o histórico de companheiros meus enquanto eles não viam e sei bem a situação. Vídeos desprezíveis, indignos de seres humanos. Não os olhei com os mesmos olhos. Com alguns, mesmo deixei de falar. Atrizes que mais parecem bonecas infláveis. A maioria pensa no gênero somente com o pênis e em função dele.
A nossa cultura perdeu em alguma dobra do tempo-espaço a capacidade de produzir erotismo como antigamente, isto é, de forma instigante. O erotismo é indissociável da pornografia e funciona como o "gatilho" de atração. Dois animais copulando podem ser vistos no Animal Planet ou na Hustler Tv. A quantidade de erotismo é que vai definir o que é pornografia, e se você é chegado em zoofilia entende o que eu quero dizer. As coisas se passam mais ou menos assim: quando vou em um restaurante, existe um ritual e isso é do caralho. Queria que na pornografia houvesse algo semelhante. Esperamos pela mesa, escolhemos a comida com ponderação e esperamos mais. A espera é um ingrediente essencial, tanto no erotismo quanto na gastronomia (estas duas coisas que são tão próximas). Além disto, existe o ambiente, o observar do prato e o consequente deleite estético. Todas aquelas pequenas coisas que nos afastam do mero ato animal de engolir. Ainda estou aguardando um filme pornô que só tenha uma foda. E que seja no final. Duas horas árduas de paudurecimento para no fim... BUM! (ou BANG!)
A própria linguagem que circunda a pornografia... Vejamos: o ato de 'bater punheta'. Isto merece ser repensado. Porra, não se devia 'bater' punheta, mas sim... Sei lá! Deixemos essas considerações acerca da linguagem para outro dia.
Não quero entrar aqui em uma reflexão sobre a nossa sociedade puritana e como ela deveria ter mais sexo. Não se trata disso. Se trata do componente erótico, transformador, qualificador da pornografia. Na era em que o homem é a medida de todas as coisas, o que torna o mercado do pornô pré-destinado a uma mísera punheta de 5 minutos é a aridez em que os homens se encontram. Suas almas são assim, foram moldadas por máquinas onde qualquer fetiche, perversão, prazer, foi repudiado. Não existem histórias, ambientes, composições e personagens excitantes. Vemos carne e ossos e músculos se contraindo. Na época do vídeo, da revista, isso não era um problema pela falta de opção. Hoje em dia não. No que um bom vídeo da internet deixa devendo a um grande pornô? Em ambos trata-se de uma extensão da aula de anatomia. Porém no segundo há alguns enquadramentos, closes, poses, signos de perversão... A ausência disto é o empecilho que a indústria e seus consumidores inserem dentro dela atualmente. A perversão se foi e Sade se revira no túmulo. Vídeos cada vez mais curtos, mais baratos. Há um barateamento geral que não cheira bem. É preciso foder mais, infelizmente, com menos. Isso não vem de fora, o preconceito e a falta de carinho vem de dentro. Não preciso me estender: o que quero dizer é que a culpa é sua, consumidor. A pornografia só irá ser levada a sério quando o homem moderno olhar para sua mão e identificar que o prazer não habita somente o pau, mas também a mente. E a mente, meus amigos, é um parque de diversões.
Esse cenário é passível de mudanças. Avancemos, confrades, em busca do que há de melhor! Queremos qualidade! Não nos deixemos surpreender com vaginas usuais, repetições incessantes... É preciso mais Stoya, mais Sasha, mais bukakes japoneses em HD. Mais perversão! Mais sadismo! A internet é um oceano e o melhor dela pode estar apenas alguns cliques.
Deixo a escolha, literalmente, na mão de vocês.
Desejo uma boa sorte para todos.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
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