segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A Puta Zumbi

Marcelo é o típico cara de 25 anos, tinha terminado seu curso superior, mas trabalhava em uma área totalmente diferente da sua graduação, 44 horas por semana, ganhava razoavelmente bem, não tinha muitos vícios, saia de vez em quando pra tomar “uma cervejas”, filava alguns cigarros quando escutava algum rumor que poderia ser demitido. Um típico celetista.

Marcelo não levava muito jeito com as mulheres, não o julguem, de vez em quando ele conseguia comer alguma bucetinha de graça, mas quando o saco começava a pesar, ele retirava uns 100 reais do seu ordenado e partia pra um puteiro classe média da capital. Segurança na entrada, cerveja quente e putas de todos os tamanhos e qualidades tentando hipnotizar o seu pau pra uma trepada de “15 minutos ou até você gozar, certo amor?”. Marcelo não se sentia muito bem naquele ambiente, só queria abrir as calças, arrumar uma puta com cara de asseada e gastar uma camisinha.

Ele já tinha algumas ninfetas preferidas, mas estava sem sorte. Ana Clara conseguiu pescar um rico otário e brocha pra bancar sua faculdade de jornalismo (eu acho que toda puta devia virar terapeuta sexual, ou pelo menos psicóloga, boa parte do trabalho delas é ouvir merda dos clientes); Lívia voltou para o Rio Grande do Sul, disse para os pais que a faculdade de medicina em Maceió não tinha dado certo e que tentaria passar em uma particular no ano que vem, tinha “juntado uma grana”. Ele tinha uma preferência no quesito mulheres, gostava das branquinhas de cabelo curto e com jeito de intelectual. Muitas vezes pedia para uma habitual usar um óculos na hora que ele ia gozar.

No outro lado do puteiro, tentando embebedar um cara de uns 50 anos, Marcelo viu pela primeira vez Camila. Ruiva com os cabelos batendo nos ombros, com a pele toda vermelha do sol do meio dia, olhos castanhos claros e um rabão de chamar a atenção.

Ele esperou pacientemente Camila terminar de seduzir o senhor calvo, acabou não dando certo as investidas de nossa puta, o senhor continuou bebendo sua Kaiser de três reais. Deu um tapa na bunda de Camila e ela se retirou da mesa, esboçou um leve sorriso depois de levar o tapa. Marcelo sentiu uma facada de ciúmes na nuca. “Que porra é essa?”, pensou alto. Nem tinha falado com essa puta e já tava assim? Que merda é essa? Só tinha uma coisa a ser feita, vou humilhar essa puta, comer ela de quatro, gozar na cara e depois jogar o dinheiro no rosto dela, sair desse puteiro e nunca mais voltar.

Marcelo se aproximou de Camila e quando ameaçou abrir a boca, ela falou:
- Oi amor, quer fazer alguma coisa gostosa hoje? 60 reais.

Ele entregou o dinheiro na mão, sem falar nada. Foi escoltado até o quarto e transou com camisinha por 10 minutos. Gozou depois de duas posições. Não abriu a boca sequer uma vez. Depois do fight, ainda ouviu 10 minutos de papo padrão de puta. Voltou para casa. Ficou pensando no que aconteceu a semana toda. Não conseguia se concentrar no trabalho. Só conseguia pensar em como se sentiu um inútil manipulado por uma puta. Voltou ao puteiro no próximo sábado, e no próximo, e no próximo, assim sucessivamente por dois meses. Sempre falando trivialidades. Sempre comendo Camila. Sempre fazendo o papel de namorado de puta e até gostando do papel. Teve uma sábado que ele tentou uma aproximação mais direta e perguntou:
- você tem namorado?
- não... eu tinha, mas não rolou.
- era um cliente?
- sim, foi meu cliente por dois anos. Eu costumo namorar clientes antigos. Quem sabe algum dia você não vira meu namo? – terminou rindo.

Porra Marcelo, abre o olho, essa puta ta querendo manipular você, vai te prender por dois anos, sugar cada recurso que você tem e depois te banir daquela zona. Mas Marcelo estava cego, começou a comprar presentes pra puta e tinha vezes que pagava só pra ficar conversando. Já tinha adquirido o apelido de “namoradinha de puta” com as colegas de Camila. E assim o jogo seguiu por mais seis meses. Um sábado, depois de uma trepada sem graça, Marcelo abriu o jogo:
- Camila, eu te amo.
- oh, docinho, eu também te amo.
- Não, não, porra, eu amo você mesmo, quero que você largue essa vida e venha morar comigo, eu consigo te sustentar, eu até arrumo outro emprego se for preciso.
- Olha, eu sei o que você ta pensando, a gente trepa toda semana, você não tem namorada, é muito carente, acaba se envolvendo, mas eu gosto de ser acompanhante.
- acompanhante o caralho, VOCÊ É PUTA! PUTA!

Marcelo jogou 100 reais na cama e saiu. Camila ficou parada, já tinha visto aquela cena outras tantas vezes, mas geralmente saia da “relação” sem ser recompensada.

Camila continuou seu trabalho, atendeu mais cinco clientes aquele dia e depois foi pegar o habitual táxi para sua residência. Saindo do puteiro, deu a porcentagem a seu rufião e seguiu até o ponto. Na primeira esquina sentiu uma pontada no peito. Sua última visão foi a de uma pessoa segurando uma faca e olhando para os lados.

Marcelo chegou em sua casa e tentou passar o tempo vendo a sua velha babá eletrônica, mas não tinha nenhum programa que retirasse os pensamentos de “sair pelas ruas matando garotas de programa” da sua mente. Acabou chegando a conclusão que a maioria dos serial killers deveriam ser caras que levaram um chifre e resolvem aliviar a frustração em garotas parecidas com as mulheres que tinham posto o ornamento em suas cabeças.

Resolveu dar uma passada no bar mais pé de chinelo da cidade, onde ninguém vai pra conversar depois do trabalho ou paquerar, vão pra tomar álcool etílico e esquecer dos problemas. Antes de atravesar a porta, deu mais um longa olhada para o corpo de Camila estendido em seu tapete na sala. Ela ainda parecia debochar dele.

Um grande balcão, quatro mesas, quatro caras bebendo sem olhar pro lado, dose após dose, nem pra discutir futebol, política ou putaria suas mentem permitiam nesse momento, eles dedicavam cada segundo do tempo a tentar afogar seus problemas na bebida. Marcelo se sentou bem em frente ao barman e ergueu o dedo indicando que queria o mesmo que todos os presentes, encher a cara. Começou a beber, em 15 minutos já estava em sua quarta dose, quando percebeu a aproximação de um senhor em seus 60 anos pelo lado esquerdo. Fitou ligeiramente a cara do sujeito, mas parecia que todo o resto de seu corpo era um grande buraco negro.
- Posso ajudar o senhor?
- Eu sinto seu sofrimento, meu filho, você ta sofrendo por mulher.
- Ora seu velho, saia da minha frente antes que eu quebre sua cara.
- Eu só admito que me chamem de velho quando eu não conseguir mais cagar sozinho.

Marcelo olhou mais uma vez para o rosto daquele senhor, a face toda estragada pelo tempo, perfeitamente estragada, parecia que ele tinha morrido, mas um maquiador de corpos tinha refeito sua cara e ele por alguma mágica tinha continuado vivo. Deu mais um gole e respondeu:

- Uma puta não me respeitou, mas eu vou esquecer isso hoje.

O velho se aproximou mais ainda, botou a mão em seu ombro e disse:

- Meu filho, eu sei o que você fez.

Marcelo se sentia extasiado, não tinha certeza se aquilo era um delírio provocado pelo álcool barato, parecia real demais.

- Como você sabe que eu fiz isso? – respondeu cético
- Aconteceu a mesma coisa comigo e eu marquei minha cara no espelho naquela noite, consigo reconhecer outro homem na mesma situação no primeiro momento que eu vejo, mas existe uma solução pra isso, essa é a sua noite de sorte.
- Você vai me ajudar a livrar do corpo? Olha, eu não tenho dinheiro, e se tivesse preferia tentar subornar um PM, sem ofensas, mas você não consegue nem ficar em pé sem ajuda.
- E se eu te falar que posso fazer com que ela nasça de novo?
- Você é um tipo de bruxo?
- Você pode me chamar de amigo.

Voltou até a casa em que tinha deixado o corpo em decomposição. Não acreditava que tinha deixado um velho o persuadir a fazer aquilo, mas ao mesmo tempo parecia a única coisa a ser feita. Pegou o corpo já frio e colou em sua cama em posição fetal, com uma faca de cozinha fez um furo no pulso da garota e ao mesmo tempo no seu, tomou cuidado para cortar o pulso na horizontal, encostou ambos os pulsos em sincronia. Abaixou as calças e por um milagre conseguiu deixar seu membro ereto. Fez sexo carnal com sua amada ao mesmo tempo que deixava seu sangue despejar na cavidade feita em seu pulso.

No final de tudo, nada tinha acontecido. Amaldiçoou o velho pela peça pregada. Estava exausto. Ainda estava todo melado de sangue e fluidos de sua parceira cadáver. Tentou vomitar no banheiro, mas acabou dormindo em frente a privada. Acordou atordoado, como se um elefante tivesse pisado em seus testículos. Tinha quase certeza que tudo não tinha passado de uma alucinação causada pelos quilos de álcool em seu sangue. Mas depois de alguns segundos percebeu que ainda estava todo melado. Seu pulso se apresentava em um estado deplorável. Mesmo sem forças, se levantou em um pulo e correu até a sala.

Não encontrou ninguém. Nenhum vestígio dos restos mortais de Camila. Pensou, tinha se cortado em um ato covarde, mas não tinha cometido essa barbárie com mais ninguém, respirou aliviado. Foi até a cozinha pegar um pouco de água. Sentiu uma porrada em suas costas, não conseguiu olhar pra trás. Se sentia cansado, não podia mais resistir.

Acordou. Só conseguia ver a cor branca em sua frente. Paredes brancas. Tecidos brancos. Mulheres brancas. Tudo tão branco. Teria morrido? Teria conseguido créditos suficientes pra ir ao céu? Se arrependeu de ter lido tantas vezes o livro do Richard Dawkins. Uma mulher chegou perto e disse:
- Senhor Marcelo? O senhor está no Hospital Alexandre Cintra, temos boas e más noticias para o senhor.

Puta merda, ela me chamou de senhor três vezes em uma frase e tem más noticias pra mim. Começou a se situar. Não conseguia mexer os braços ou as pernas. Pra falar a verdade, não conseguia nem movimentar sua cabeça, só conseguia olhar fixamente para a cara gorda e pálida da mulher na sua frente.

- Meu nome é Dr. Fernanda, eu sou a enfermeira-chefe do hospital. O senhor estava em coma nos últimos quatro dias. Infelizmente alguém invadiu sua casa, atingiu o senhor pelas costas, pelo que os policiais puderam investigar e... eu não sei como falar isso...

A cara da mulher passou de um branco albino para um vermelho quase-infarto em segundos.

- Bem... ele comeu seus membros inferiores e superiores.

Marcelo não entendeu direito nos primeiros segundos, ainda estava muito dopado, mas depois seus olhos encheram de lagrima, ele já conseguia movimentar sua cabeça e conseguiu constatar o que a enfermeira tinha lhe dito, suas mãos e pés não existiam mais. Ele só conseguiu balbuciar:

- Vadi... Puta...

A enfermeira pensou que ele estava se referindo a ela, mas já tinha se acostumado com os “pacientes difíceis”, mas isso era trabalho pras técnicas em enfermagem, ela não passou quatro anos sentada em uma cadeira pra escutar xingamentos. Pediu licença e se retirou do quarto, prometendo que enviaria alguém pra atendê-lo.

Minutos depois, Marcelo escutou alguém forçando a porta do quarto, devia ser alguma enfermeira trazendo antibióticos misturados com gelatina sem gosto. Mas não, era aquele velho, o maldito velho que tinha plantado a idéia em sua cabeça;

- Seu... Miserav...
- SILÊNCIO. Agora você só escuta. Você tinha razão, eu sou velho, eu tenho 300 anos. Eu tinha morrido e um filha da puta necrofilo me comeu, eu acabei virando essa aberração. A mesma coisa aconteceu com sua namoradazinha. Ela virou uma aberração, agora vai perambular as ruas comendo carne de mendigos. Ela virou uma puta zumbi. E você não pode fazer nada sobre isso.

O velho se aproximou de Marcelo e mais rápido que uma bala, arrancou sua cabeça. Já tinha garantido o lanche da tarde e menos uma pessoa pra dedurar suas atividades noturnas. Sua caça, como gostava de falar.

A Dr. Enfermeira-chefe, depois de duas horas, voltou para checar seu paciente preferido. Definitivamente não tinham falado sobre isso na faculdade.

Postei isso originalmente no meu blog.

3 comentários:

Alan disse...

Nunca confie em putas, já dizia meu tio.

Anônimo disse...

porra, postem putaria logo. Videos, fotos.. eu nao quero saber de putas zumbis ou diarios de gravacao. So uma punhetinha mesmo.

Pan disse...

É por isso que nós postamos aquilo que queremos, não o que os outros querem.