Eu,
mulher, fã de pornô.
Todos
os meus relatos sobre minhas preferências sexuais costumam começar com 'desde
criança, blá blá blá'. Aqui, não vai ser diferente.
Desde
criança - ou, para chocar um pouco menos, desde os meus 12 ou 13 anos -, tenho
uma ótima relação com a indústria pornô. Sempre que tento buscar as origens do
meu interesse por esse universo, pego-me lendo incessantemente as Marie Claires
e Novas da minha mãe e tentando entender aqueles artigos que falavam sobre como
gozar com penetração, como se masturbar no banheiro do trabalho, como sua
buceta funciona, como encontrar seu ponto G. E eu, no banheiro de casa, com a
porta trancada e com medo de respirar mais alto, procurava. Eu devo ter perdido
a virgindade comigo mesma, sempre penso nisso.
A
questão é que, desde sempre, entender de sexo e ser feliz em sua prática sempre
esteve entre as minhas prioridades. A ideia de não gozar, de ser uma daquelas
mulheres que não gostam de trepar ou que fingem gozar ou que inventam dores de
cabeça sempre me aterrorizou. Uns culpam a astrologia, uns alegam que eu não
fui amada o bastante quando criança, uns se contentam justificando minhas
inclinações com uma devassidão inerente, sem começo e sem cura. Eu não tenho
dinheiro para terapia e não sei de nada. Sei que, desde criança, o universo
pornô foi meu maior professor e, claro, grande objeto de fascínio.
Lembro
de quando eu nem tinha internet em casa, ainda, e passava as tardes no
computador do meu primo enquanto ele trabalhava. Lá, vasculhando pastas à
procura de garotas nuas, encontrei meus primeiros vídeos nefandos. Lembro de
duas lésbicas esculturais, loiras, na beira de uma piscina, talvez um picolé.
Não, mentira, acho que o picolé veio antes. Emanuelle. Antes disso tudo veio
Emanuelle, é claro. Como eu pude me esquecer das noites de sábado em que eu me
esforçava absurdamente para me manter acordada até o primeiro mamilo? Com
sorte, até os primeiros pentelhos. Com esforços hercúleos, até a primeira cena
de sexo simulado. Aquilo era deleite. Aprender as caras, os apertos nos seios,
os gemidos, as jogadas de cabelo, os olhares, os movimentos do quadril. Devo
muito do que sei à Emanuelle.
Mas,
devo mais a Heather Brooke, minha obsessão dos quinze anos. Lembro de quando vi
seu primeiro vídeo. Eu nunca tinha chupado um pau, acho, e fiquei simplesmente
hipnotizada com a possibilidade de poder fazer aquilo. Como era fácil, como
parecia gostoso, como minha boca ficava cheia d'água. Aos quinze, eu tinha
sonhos frequentes nos quais me via de joelhos com um cacete na boca. Aos
quinze, eu acreditava ser capaz de treinar minha garganta para receber os
maiores paus e alojá-los ali no fundo sem desconforto algum. Eu treinei. Céus,
como eu treinei. Com paus de borracha, com vibradores, com paus de verdade. Sou
uma aluna muito dedicada.
Senti
vontade de chorar enquanto chupava o meu primeiro pau. Foi uma das melhores
experiências da minha vida. Eu senti, pela primeira vez, que estava fazendo
algo que sabia fazer. Eu estava em casa. Eu sabia de cada manobra, eu sabia a
intensidade da sucção, eu sabia que pau molhado desliza melhor, eu sabia que
aquilo caberia na minha boca. Não foi difícil, não foi constrangedor, não foi
aterrorizante. Foi, simplesmente, delicioso. E, desde a primeira vez, esperei
ansiosamente sentir o gosto, a textura da porra por mim merecida na minha boca.
Não aconteceu. O rapaz alegou não saber o que fazer, não saber se gozava na
minha boca ou me pedia pra parar. Estávamos no meio da rua, afinal, e ele optou
por me pedir pra parar. Não, não sou a Heather Brooke. Não, não me entendo com
paus grossos. Porém, defendo-me afirmando categoricamente - e com alguma
arrogância - já ter destruído lares (um lar, sejamos justos) com um boquete.
Obrigada, Heather.
Stoya
me ensinou a ser feliz com os meus pelos. Stoya me ensinou a não perder uma
trepada por não estar com a depilação em dia. E, mais, Stoya me ensinou a ser
linda quando peluda. Graças a ela, a seus vídeos, a suas declarações e a sua
existência, amo pelos pubianos. Os meus, os dos homens e os de outras garotas.
Não consigo expressar a minha decepção ao baixar uma calcinha e verificar a
inexistência de um pelo sequer. É como se ali não houvesse nada de animal. Como
se não fosse uma buceta, como se não fosse um grande palco de pecados e
diversões, mas só uma continuação do resto do corpo, só mais um pedaço de pele.
Mas a coisa é muito mais séria quando o assunto sou eu mesma. Olhar-me no
espelho depois da depilação, estudar os pelos cuidadosamente desenhados,
emoldurando o que eu tenho de mais secreto... caralho, eu me sinto uma puta
mulher. Sinto-me feita para o sexo. Pronta, esperando, guardando um mundo de
sujeiras deliciosas dentro da calcinha. E acariciar meus próprios pelos antes
de dormir, sentir a textura, colocar-me em contato com a minha natureza e com
os meus cheiros ali impregnados é um exercício de amor.
Mas
Stoya não é só isso. Stoya me ensinou, também, a me divertir na cama. A
conversar, a trocar baixezas no ouvido ou aos berros, ou gemendo e olhando nos
olhos. A rir, a me exceder, a agir com a mesma naturalidade com que ajo quando,
sei lá, bebo água. Ela me ensinou que, sim, meu rosto pode ser observado
durante o sexo e que, sim, eu devo ser tão bizarra quanto todo mundo, mas é por
ali que meu tesão vaza. É aí, na minha boca se contorcendo, nos meus olhos não
sabendo pra onde olhar, nos meus dedos sendo mordidos. É aí que quem está me
comendo tem a comprovação - ou não - do meu prazer. E nós sabemos que isso faz
gozar. Obrigada, Stoya.
Quero
terminar agradecendo a Lorelei Lee e a Annette Schwarz. Por me mostrarem que eu
também posso me excitar sendo dominada por outra mulher. Que funciona. Que eu
posso me sentir tão humilhada quanto gosto de me sentir por um homem. Que eu
posso apanhar de uma mulher, que eu posso obedecer a uma mulher, que eu posso
olhar para cima esperando a próxima ordem e não me sentir uma farsa. Obrigada,
lindas, por me apresentarem a sujeiras que eu ainda não havia admitido a ninguém,
por me mostrarem cantos desse mundo perverso que eu ainda não percorri, por me
incentivarem a procurarem parceiros dispostos a andarem de mãos dadas comigo
nesse mundo molhado, barulhento e exagerado que eu ainda desconheço.
A
ideia inicial do texto era explicar que eu não costumo me masturbar assistindo
a vídeos pornôs, mas errei a mão.
Mina Vieira
Mina Vieira
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